Magda Cotrofe, 3 vezes capa da Playboy, diz ter medo de plástica e relembra procedimento: ‘Parecia monstro’

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Hoje curadora do museu do biquíni, que fica na Alemanha, ela fala de vida em família e de assédio quando era modelo. Série do g1 relembra trajetória e conta como estão ‘musas dos anos 90’. Magda Cotrofe: série musas 1990
Magda Cotrofe foi uma das precursoras no uso do biquíni asa-delta, e marcou época como modelo e musa nas décadas de 1980 e 1990. A história dela com a peça rendeu seu atual posto como curadora da América Latina do Bikini Art Museum, da Alemanha.
O convite veio pouco antes da pandemia. O museu foi inaugurado em 2019, mas Magda só conseguiu visitar o local em julho de 2021. “Foi incrível. A gente não conseguiu fazer uma inauguração, nem levar os brasileiros, levar os estilistas, por causa da pandemia”, conta ao g1.
Nesta semana, o g1 dá voz às mulheres que foram chamadas de musas nos anos 1990. Nesta série de entrevistas, elas relembram as trajetórias e contam como estão.
Aos 59 anos, Magda não está atuando mais tanto como modelo, mas não abandonou a profissão:
“Falam: ‘ah, você é ex-modelo?’. Não. A gente sempre é modelo, né? Às vezes, você não está, mas você sempre é. Então, a questão é que em momentos a gente trabalha com presença [em eventos]. Enfim, essa parte de modelo continua. Trabalhando, atuando dessa mesma forma. Isso é sempre.”
Ela também foi atriz, com participações no humorístico “Viva o Gordo” e no filme “Solidão, Uma Linda História de Amor”. Magda ainda fez história ao sair por três anos seguidos na capa da revista “Playboy”. Antes, já havia recusado um convite para ser Garota Playboy.
No Bikini Art Museum na Alemanha, Magda Cotrofe posa com os panéis que contam um pouco de sua história
Arquivo Pessoal
“Aí falei. ‘Ah, não, acho legal eu começar uma carreira com um título de garota’. E eu acho assim, vou aparecer e tchau, né?”, relembra.
Pouco depois, Magda saiu no carnaval com a União da Ilha. “Foi um sucesso louco quando eu saí, foi minha primeira vez no carnaval e eu apareci demais na Globo. Então foi uma loucura.”
“E daí realmente veio o convite [para capa]. Aí eu já tava com uma outra cabeça, já achava que era legal. E aceitei melhor. Aí fui aceitando, foram três capas seguidas”, conta.
Ao g1, Magda, falou ainda sobre sonhos, arrependimentos, assédio e processo de envelhecimento. Hoje, ela é mãe da estilista Talita, de 33 anos, e do DJ e produtor musical Tiago, de 29.
“Eu não fico competindo, não quero ser uma garota de 20 anos, sabe?”
“Eu tenho minhas ruguinhas, eu vou tentar trabalhar isso da melhor forma possível, porque eu gosto de me olhar no espelho e ver o que eu gosto. Se a fulana está preocupada se eu tenho uma ruguinha aqui, ali, o problema é da pessoa, não é problema meu.”
Magda Cotrofe com os filhos Talita e Tiago
Arquivo Pessoal
g1 – Primeiramente, queria que você falasse um pouco sobre a diferença do assédio dos fãs ali na década de 1990 e atualmente.
Magda Cotrofe – Então, o assédio é menor, né? Mas quando se reconhece, é sempre a mesma coisa. E o assédio hoje é mais digital. Então mudou um pouquinho essa coisa do físico, do pessoalmente. As pessoas, hoje, elas se entregam mais no digital, vamos dizer assim, né?
g1 – E isso é bom ou ruim? Porque as pessoas, ao vivo, às vezes deixam de fazer algumas coisas que no virtual têm mais coragem, né?
Magda Cotrofe – As pessoas têm mais coragem, são mais ousadas porque estão ali pela internet, então elas podem fazer, ser quem elas quiserem.
“No corpo a corpo, quando é uma pessoa ousada, não é muito bom, né? Para a gente, é muito ruim. E passamos por momentos bem difíceis.”
Eu e outras modelos, tenho certeza disso. Então assim, o digital você deleta e tudo bem. Acho que é mais tranquilo, com certeza.
g1 – E falando sobre o assédio na profissão, a gente vê atualmente tantas denúncias, né, o movimento #metoo… Como foi para você na época? Passou por alguma situação assim?
Magda Cotrofe – Como a gente não entendia isso, vamos dizer assim, a gente não tinha essa referência, — e jamais pensava que a gente ia ter algum tipo de defesa para isso, que alguém ia defender a gente, — então jamais pensei [em denunciar]. A gente não pensava, a gente tentava se defender com o que a gente tinha com a gente mesmo, vamos dizer assim.
Era muito difícil você pensar. ‘Ah, vou denunciar’, porque não existia. Então ou você aceitava ou você não aceitava.
“Deixei de ter alguns trabalhos bacanas porque existia esse tipo de assédio, existia esse tipo de ‘ou você aceita ou você não vai fazer nada’. Então deixei de fazer.”
Magda Cotrofe: em imagem de 1990, usando maiô asa-delta, e em clique de 2020
Dario Zalis/Helmut Hossmann
g1 – E isso te desanimava? Como era para você?
Magda Cotrofe – Muito. Muito, viu? Realmente dificultou muito, né? O caminho é muito mais cheio de pedras. Pedras e buracos. Quando você chegava em algum lugar, era sempre assim, então desanimava bastante.
Mas eu fui uma pessoa muito firme. Como eu comecei eu mesma fazendo meus contratos, então eu falo que eu era muito rude. Porque ali era onde eu conseguia filtrar o que era bom e o que era ruim para mim. Era minha maneira, meu escudo.
g1 – Quem você aponta como musas da atualidade?
Magda Cotrofe – Eu falo assim, a Magda Cotrofe de hoje seria a Juliana Paes. Só que agora ela emagreceu muito… Eu acho que a que sempre me referenciei foi ela. Estilo de corpo, curvas, eu sempre vejo a Juliana Paes mesmo como a Magda Cotrofe de hoje.
g1 – E você vê muita diferença das musas dos anos 90 e as musas atuais? Você acha que mudou muito da sua época?
Magda Cotrofe – Eu acho que mudou bastante porque é um estilo totalmente diferente. A gente tinha essa diferença muito grande de quem fazia biquíni, lingerie, e quem fazia passarela. Então existia essa diferença incrível. Já com a chegada da Gisele Bündchen, já mudou bastante, porque ela é magrinha e tal, faz de tudo, então acho que já dali ficou um marco para essa diferença.
Eu, na passarela, era uma coisa muito difícil. Tanto é que eu fiz curso de modelo, manequim, e a Bruna [professora] não me passava para a passarela de jeito nenhum. Mas o que eu mais fiz foi viajar pelo Brasil inteiro desfilando, por incrível que pareça.
Mas aí foi como personalidade, que as pessoas gostariam de conhecer, diferente de passarela moda Fashion mesmo, né? Eles queriam mesmo as pessoas bem magrinhas. Tipo cabide. Mas eu não era tão magrinha. E hoje não tem mais nem isso. Qualquer um pode estar na passarela, eu acho o máximo isso.
“E na época, modelo era modelo, atriz era atriz. Então modelo quando queria ser atriz era uma briga total. As atrizes não gostavam. Eu acho que até hoje deve ter um pouco disso. Mas, nossa, era um preconceito incrível.”
Magda Cotrofe em ensaio na década de 1990
Arquivo Pessoal
Eu fiz o Jô Soares, “Viva o gordo”, na Globo. Então você já começa a entrar, já existe uma barreira, né? Existia essa coisa muito grande de preconceito mesmo.
g1 – Vi uma entrevista que você comenta que, hoje, está todo mundo muito igual…
Magda Cotrofe – Eu te falo das pessoas serem iguais no sentido geral, não só de modelo ou de artistas, de atriz. “Ai, vamos botar a sobrancelha assim”, aí todo mundo vai lá quer botar a sobrancelha assim. “Vamos fazer o corpo assim”, todo mundo vai lá e faz o corpo assim.
Então parece que você entrou numa máquina e sai todo mundo igual. Eu sempre quis ser diferente. Eu estava comentando isso com minhas amigas, eu sempre quis ter algo diferente. As pessoas se vestiam de uma maneira, e eu queria ter algo diferente. Sei lá se isso era bom ou era ruim, nem sei, meu jeito de ser.
g1 – E como que é para você envelhecer nesse momento em que tá todo mundo ficando igual, fazendo harmonização, como você mesma acabou de dizer?
Magda Cotrofe – Eu acho super válido, eu sou a favor de cirurgia. Sou a favor dos procedimentos. Agora nada com exagero, né, gente? Acho que você tem que harmonizar, a palavra já fala, ser harmônico. Então, harmônico é algo que fica bonito, algo que fica bacana. E tem que ter esse cuidado.
“Tenho muito medo de fazer qualquer coisa, principalmente rosto, porque eu fiz uma vez um preenchimento e deu alergia, e fiquei com o rosto enorme, parecia um monstro.”
Eu chorava a noite inteira, desesperada conversando com o cirurgião. Aquilo ali me traumatizou muito, eu fiquei muito preocupada. Então, tem que ter todos os cuidados.
Agora, tem gente mudando a identidade. Tem pessoas que eu conheci que eram de uma maneira e eu não conheço mais. A pessoa tem um rosto meio oval e, de repente, ela está com rosto quadrado, uma outra identidade. Mas enfim, faz parte.
g1 – Não sei se você chegou a assistir, mas na novela “Um lugar ao sol” (2021-2022), a personagem da Andreia Beltrão falou sobre o processo de envelhecimento de uma ex-modelo. Você sente esse processo de envelhecimento, sente o julgamento das pessoas nas redes?
Magda Cotrofe – Para mim, eu tô bem, graças a Deus. Eu me preocupo muito com a saúde, eu acho que a saúde em primeiro lugar. Eu não faço dieta, como de tudo. Não sei se é certo, mas de vez em quando eu puxo minhas orelhas mesmo, “tipo Magda, não dá, você comeu demais, você exagerou esse mês inteiro, vamos segurar a onda”. Então eu mesma vou me equilibrando.
Eu agradeço papai do céu pelo o que sou, pela minha saúde e pela minha família também pela genética, que eu tenho. Mas acho que independente disso, você tem que ter uma cabeça boa de envelhecer.
Eu não fico competindo, não quero ser uma garota de 20 anos sabe? Eu tenho minhas ruguinhas, eu vou tentar trabalhar isso da melhor forma possível, porque eu gosto de me olhar no espelho e ver o que eu gosto. Se a fulana tá preocupada se eu tenho uma ruguinha aqui, ali, o problema é da pessoa, não é problema meu. Eu tô bem.
“Procuro estar bem comigo mesma, eu acho que isso é o principal, né? O principal do envelhecimento é a cabeça, não é o corpo.”
g1 – Você fez TV, passarela, capas de revistas, posou nua três vezes… Você se arrepende de alguma coisa que tenha feito ou até de algo que tenha deixado de fazer ao longo da carreira?
Magda Cotrofe – Não. Assim, eu gostaria muito de ter feito mais trabalhos de moda mesmo, mais editoriais que eu amo, eu amo de paixão. Eu fiz muita passarela, mas com essa coisa da celebridade.
Mas eu senti falta disso. A revista, o nu, foi um gatilho para minha profissão, o meio que eu achei que chegar mais rápido, né? Eu já não era tão novinha, já tinha 21 anos, já tinha modelos bombando na época, Xuxa, Luiza, no auge, bombando, duas lindas, maravilhosas.
Eu era esportista, era patinadora artística, a minha veia era esporte. Comecei a ser modelo por acaso. Meu avô falava que eu tinha que ser miss. Cheguei a participar do Miss Estado do Rio com Sílvio Santos na época, mas eu nunca tirava primeiro lugar. Tudo era segundo ou terceiro lugar.
Aí acabei sendo modelo e aí veio a Playboy, o convite. Eu não aceitei a primeira vez porque era tipo garota Playboy, alguma coisa assim. Aí falei. ‘Ah, não, acho legal eu começar uma carreira com um título de garota’. E eu acho assim, vou aparecer e tchau, né?
E aí foi quando aconteceu a história do carnaval, foi um sucesso louco quando eu saí. Foi na União da Ilha minha primeira vez no carnaval e eu apareci demais na Globo. E daí realmente veio o convite. Aí eu já estava com uma outra cabeça, já achava que era legal. E aí aceitei melhor. Aí fui aceitando, foram três capas seguidas.
Magda Cotrofe
Wagner Carvalho
g1 – Você comentou de a revista ser um gatilho para sua carreira. E era uma época em que o cachê do nu mudava a vida das mulheres também, né? Foi assim para você também? E foi bom também ter recusado a primeira para chegar num outro patamar para ter um outro cachê?
Magda Cotrofe – Sim, foi perfeito ali. Foi uma decisão perfeita, foi uma decisão tomada bem certeira. Mas assim, o cachê… Tinha muita história em cima desse cachê, né? Muito mito de que eram coisas… Era muito bom sim, mas não essa coisa que todo mundo pensava. Ajudava? Ajudava. Mas acho que mudar, mudar assim…
Depois até ficou melhor. Apesar de elas não ganharam cachê, elas ganhavam comissão em cima da revista. Então aquelas que realmente fizeram, tipo a Tiazinha, as Sheilas… Nossa, ganharam muito, porque elas venderam muito, né? E elas foram o finalzinho dali da história. Depois foi para digital. E aí depois perdeu a graça.
g1 – E quais são seus sonhos e metas profissionais hoje?
Magda Cotrofe – Claro, a gente sempre tem sonhos, sempre tem metas. Eu quero muito trabalhar nessa área cultural. Até porque eu já fiz um trabalho cultural levando peças de teatro pro interior.
A história do museu, quero levar para frente. Eu quero ver se eu consigo fazer algumas coisas aqui no Brasil, fazer esse intercâmbio, algumas exposições aqui. Eu estou com bastante projeto. Infelizmente, com a pandemia eu não consegui colocar esses projetos em prática, mas enfim, eu acho que agora vai.

Fonte: G1 Entretenimento